extrema direita
No dia 4 de abril deste ano, em Salvador (BA), Ronaldo Caiado (UB), governador de Goiás, lançará sua pré-candidatura à presidência da República, nas eleições que acontecem daqui a 19 meses, em outubro de 2026. Tamanha antecedência respeita a ansiedade que toma de assalto a ambição dos líderes extrema direita, que correm pelo apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL),que está inelegível até 2031.
Nas últimas semanas, Caiado costurou uma aliança com o cantor Gusttavo Lima, contumaz apoiador de Jair Bolsonaro. O artista estará em Salvador e deve compor a chapa com o governador goiano. Ainda não há uma definição de quem seria o candidato à presidência e quem assumiria o posto de vice.
Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) costura para evitar que a candidatura de Caiado e Lima avance. O mandatário conta com o apoio do União Brasil para 2026. Na composição do atual governo, há dois integrantes do partido: Celso Sabino, do Turismo, e Juscelino Filho, de Comunicações.
Paulo Niccoli Ramirez, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), não acredita na empreitada do governador goiano. “O Caiado é um nome forte local, mas não nacional. Em 1989 já foi candidato à presidência, também como ilustre desconhecido. Por não ser conhecido nacionalmente, há uma certa limitação para sua candidatura. Assim como o Gusttavo Lima, que não tem experiência política e nem linha ideológica clara, o que o afasta de uma candidatura plausível”.
Ainda inelegível, Pablo Marçal (PRTB) tem participado das conversas pela aliança de Caiado e Lima. Candidato derrotado nas eleições de 2024, quando disputou a prefeitura paulistana, o coach está inelegível, mas tenta reverter a sentença para disputar o pleito em 2026.
Nome mais forte da extrema direita, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem tido uma rotina de respostas no meio-fio quando perguntado sobre uma eventual candidatura à presidência em 2026.
Publicamente, Freitas afirma ser candidato à reeleição para o Palácio dos Bandeirantes. Porém, internamente, a postura é mais ambiciosa. O governador aguarda uma decisão sobre o futuro do ex-presidente, que tenta reverter a inelegibilidade. Caso seja mantida, a tendência é que ele passe a brigar publicamente para ser o candidato dos bolsonaristas.
Freitas carrega um importante trunfo na manga, a aliança com Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, que se tornou o maior partido do país nas eleições de 2024, e que ocupa o cargo de secretário de Governo e Relações Institucionais do estado de São Paulo.
Recentemente, Kassab afirmou que caso Freitas dispute a reeleição em São Paulo, ele mesmo será o vice na chapa, escanteando o ex-prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth (PSD), que ocupa o cargo no atual mandato.
Outros dois governadores correm por fora pelo espólio de Jair Bolsonaro. Romeu Zema (Novo),de Minas Gerais, e Ratinho Jr (PSD), do Paraná. Ambos não podem disputar a reeleição em seus estados e devem focar energia na disputa presidencial.
Zema já foi alvo de críticas de Bolsonaro e não deve ser o escolhido. Desconhecido fora do território mineiro e ciente de que deverá ter pouco apoio fora da legenda, o novista contratou o publicitário Renato Pereira, fez as campanhas vitoriosas de Aécio Neves e Sérgio Cabral, aos governos de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Já Ratinho Jr. quer ser o candidato do PSD, mas pode ter resistência dentro do partido, já que Kassab flutua entre Freitas e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Atualmente, a legenda tem três ministros na Esplanada dos Ministérios.
Por fim, o núcleo familiar de Bolsonaro também pode rachar. Michelle Bolsonaro contava com o apoio do marido, mas o ex-presidente tem dado sinais de que a prefere como candidata ao Senado. Porém, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, não esconde a preferência pela ex-primeira dama.
Bolsonaro pensa em um plano para 2026 inspirado em Lula, nas eleições de 2018. Na época, o petista, que estava inelegível, sustentou sua candidatura até o limite permitido pela lei eleitoral. Então, abandonou o pleito e abriu caminho para que Fernando Haddad (PT), que aparecia como seu vice, assumisse a chapa e disputasse a eleição.
Assim, Jair Bolsonaro encabeçaria a chapa e, caso não revertesse a inelegibilidade, quem assumiria a dianteira da candidatura seria seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), garantindo que o espólio bolsonarista fique dentro da família.
Durante o evento CEO Conference, evento promovido pelo BTG Pactual em São Paulo, no dia 25 de fevereiro deste ano, Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, enviou um recado a Jair Bolsonaro pedindo que ele acelere o processo de alianças para 2026, sob pena de comprometer a competitividade da extrema direita.
“A definição do candidato cabe ao (ex) presidente Bolsonaro. Já disse pra ele: se ele tiver que apoiar o governador Tarcísio ou Ratinho, ele tem que decidir este ano. Se insistir no próximo ano, quem vai ser candidato é ele ou um dos seus filhos”, disse Ciro Nogueira.
Um dos interessados no espólio bolsonarista, Zema não escondeu sua insatisfação, em entrevista ao jornal O Globo, em janeiro deste ano. “Essa indefinição sobre ele ser ou não candidato, com toda certeza, acaba postergando essa decisão, e o trabalho que já poderia estar acontecendo”.
Paulo Niccoli Ramirez entende que a inelegibilidade de Bolsonaro “já demonstrou ano passado que há uma fragmentação da direita. No segundo turno, vimos algumas capitais em que havia confronto entre aliados do mesmo campo, o que prejudicou alguns nomes. Isso acontecendo em 2026, pode fortalecer o Lula”.
“Esse vácuo político deixado pela inelegibilidade de Bolsonaro acaba criando uma fragmentação de candidaturas, que pode prejudicar a extrema direita”, finalizou o cientista político.
A pesquisa eleitoral Latam Pulse, do instituto AtlasIntel em parceria com a Bloomberg, divulgado no dia 7 de março deste ano, testou dois cenários de disputa entre Lula e candidatos da extrema direita no primeiro turno.
No primeiro cenário, Lula aparece com 41,6% das intenções de voto, contra 32,3% de Tarcísio de Freitas – o anti-Lula mais competitivo. Gusttavo Lima e Caiado aparecem empatados com 4,6%. Em seguida está Romeu Zema com 4,5%. Pablo Marçal soma apenas 2,5%.
A AtlasIntel testou, ainda, uma segunda possibilidade. Nela, Lula está à frente, com 41,5% das intenções de voto. Em seguida, está Eduardo Bolsonaro, que soma 23,8%. Na sequência, Romeu Zema, com 10% e Ronaldo Caiado, que tem 6,4%; Gustavo Lima e Pablo Marçal fecham a lista, com 4,1% e 3,2%, respectivamente.
Nas simulações para segundo turno, Freitas é o único nome que venceria Lula, com 49% frente aos 47%. Eduardo Bolsonaro perderia para o petista, com 44% contra 48% do atual presidente.
Edição: Nathallia Fonseca
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